terça-feira, julho 26, 2016

 

Dia dos avós.


A vocação dos avós é afeiçoar os netos à imagem da sua ternura, do amor que lhes quer; é aprender com eles a soltar papagaios. Não sei se há um dia dos avós, mas há um crepúsculo da vida onde brilham raios de Sol. Diz a minha neta Inês que desenhou um árvore e que ela representa os avós e num galho está um passarinho que a representa. As minhas netas já sabem que as metáforas são o alimento da poesia e que sem poesia não soltamos papagaios  no tropel da vida.

 

Roubaram-nos a dignidade!


Roubam-nos a dignidade. Não sei que critério pode usar um autarca, uma assembleia municipal, para entregar uma medalha a quem é suspeito de crime. Que ideia terá esta gente da dignidade das suas funções? Que valor atribuem à distinção de uma medalha? Como cidadão, sinto isto obsceno! Dizem-me que numa autarquia, que conheço bem, para além de medalharem um suspeito de pedofilia, o presidente ao ser criticado por um medalhado respondeu-lhe mais ou menos nestes termos: “ O senhor é mal agradecido à medalha que lhe entreguei”.
São estes os autarcas que os partidos escolhem. Não haverá quem pense nas consequências deste abandalhamento para a ideia de dignidade, de cidadania, de respeito pelos valores, de coesão social?
Será que o poder local está entregue ao espírito das máfias?

sexta-feira, julho 22, 2016

 

Estamos em guerra. mas numa guerra de guerrilha.


Estou farto das análises dos politicólogos de serviço, estou farto da aceitação tácita do fatalismo terrorista, estou farto da ideia de que o terrorismo veio para ficar e que a humanidade está dividida em bons e maus. Também não vale a pena meter a cabeça na areia e ficarmos aterrorizados: estamos em guerra, uma guerra de guerrilha que deve ser tratada como tal. Não basta treinar polícias, equipar os Estados com a tecnologia mais sofisticada de controlo social, olhar para o que é diferente de nós como um terrorista, deixar que o medo seque a nossa respiração, etc. É preciso olhar para esta guerra, como ela é; precisamos de contar com a colaboração dos que têm uma religião, uma cultura, tradições, usos e costumes diferentes dos nossos para não sermos surpreendidos.  Só tendo do nosso lado a solidariedade dos que são diferentes de nós podemos vencer esta guerrilha.

O princípio da igualdade e da individualidade com que, após a Segunda Guerra Mundial, se procurou combater a xenofobia, o racismo e a exclusão social tem de ser recuperado. O multiculturalismo, com o reconhecimento de especificidades culturais, tem de acompanhar o interculturalismo, que abre as culturas diferentes ao diálogo e promove a abertura aos valores da dignidade humana.

Precisamos de confiar nas Instituições, porque a colocamos ao serviço do interesse público; precisamos de uma pedagogia do respeito pela dignidade humana, acima das diferenças de cultura, de raça ou de religião; precisamos de fazer compreender que a pobreza, a exclusão não é uma fatalidade. Mas isto não se faz, se os problemas socioeconómicos não forem resolvidos, se as instituições funcionarem em função de interesses privados, se os pobres forem esquecidos e cada vez mais pobres e em maior número, e se os ricos forem cada vez mais ricos e em menor número. Precisamos de combater a ostensiva exposição de riqueza, o darwinismo social e defender a solidariedade a todos os níveis para que, na luta contra a guerrilha terrorista, recuperemos os marginalizados para o nosso lado.

E esta luta faz-se na escola, na  universidade, nos locais de trabalho, na rua, nos transportes, no ministério dos assuntos sociais, com políticos competentes, com sentido de estado, valorizando o bem-comum, com a integração e promoção social. Sem políticos com espírito de serviço, sem políticas de integração social e sem o espírito de solidariedade, as armas dos polícias, o Estado Big Brother com suas tecnologias de controlo social, não serão capazes de nos defender.

terça-feira, julho 19, 2016

 

Uma releitura do que escrevi


Num livro “Horizontes da ética” que publiquei há mais de dez anos, a que o comentador Marcelo Rebelo de Sousa se referiu na altura (sem o ler, penso eu!) escrevi isto, que, ao reler, julgo actual e me apetece transcrever:

Perante o sofrimento, a “banalidade do mal”(como chamou Hannah Arendt ao holocausto judeu), nasce a consciência de que a vida humana não tem sentido sem o respeito pela dignidade humana e pelo direito a procurar a felicidade.
Já Aristóteles dizia há mais de dois mil anos: «todos os homens aspiram à felicidade». Mas, se perguntássemos «o que é a felicidade?», teríamos concepções completamente diferentes umas das outras. Para muitos, a felicidade está na posse de bens materiais, para outros, na saúde, na paz, etc. Não há um conceito único de felicidade, porque a felicidade e indefinível.
Segundo os romanos, são três os princípios de uma existência feliz: «honeste vivere; alterum non ladere e suum cuique tribuere». Ou seja, viver honestamente, não causar dano a ninguém e dar a cada um o que é seu. Poderíamos dizer que esses princípios são os princípios que tornam a moral necessária.
Kant considerou que o importante não é ter direito à felicidade nem ser capaz de a conquistar de algum modo, mas tentar resolver aquilo que em nós, no nosso eu, é um obstáculo à felicidade.
Isto é, o horizonte da felicidade está no saber querer. O excesso de generalização «os outros agiram dessa maneira, por que é que não posso agir de forma igual?» ou de particularismo (eu sou assim) não emergem de um saber pessoal que nos abre aos horizontes da felicidade.
A felicidade não está na ligeireza com que nos deixamos conduzir na vida, nem no «fechamento» do homem sobre si mesmo. O que o homem quer no mais fundo de si mesmo é não ser coisa, mas sujeito. Para isso, tem, no interior da sua própria consciência, de perguntar a si mesmo: “a minha acção confirma a minha «não-coiseidade»?”. Isto é, a minha acção abre-me à humanidade, tratando os outros como fins em si mesmos, tal como quero que me tratem, e não como um meio, um instrumento?!...Ora, a resposta a esta questão pressupõe a necessidade da ética.

Só a ética (ou a moral), como uma cultura de postura humana, nos abre a uma ideia universal de dignidade, bondade, justiça, solidariedade e cidadania.

Se a pergunta vier de fora, isto é, do que os outros pensam, perde-se aquilo que é específico na dimensão pessoal da ética e da moral e não nos torna dignos da felicidade.

sexta-feira, julho 15, 2016

 

Uma pequena reflexão!

Uma pequena reflexão:
Muitas explicações podem ser dadas para o que aconteceu em França. Tenho pensado muito na frase de Jacques Maritain, no seu livro” Noite de Agonia em França”. Não é um filósofo de esquerda, como toda a gente sabe! Interrogava-se sobre as razões que terão levado as democracias saídas da Grande Guerra não evitarem a segunda e dava uma explicação: a democracia perdeu as suas virtudes. É isso que está a acontecer hoje! As virtudes fundamentais da democracia são essencialmente duas: é o regime onde imperam as regras e o que tem como finalidade promover a coesão social pela justiça social, diminuindo o sofrimento dos que mais sofres. Perderam-se estas virtudes. Os governos, como o de França, procuram retirar aos que mais precisam direitos conquistados com muita luta e eram considerados conquistas civilizacionias. Um autarca toma o orçamento da sua autarquia como se fosse o seu e quer que lhe agradeçam tudo o que é seu dever fazer pelo concelho ou freguesia que o elegeu; os governos fazem o mesmo. Um caso, bem pacóvio e ridículo está a acontecer com as festas dos concelhos: nesta ocasião, distribuem-se medalhas não em obediência a critérios de relevância, mas de “promoção” da vaidade de amigos que ao autarca ficam agradecidos. Não se prestigia os que souberam servir o País! Sempre que há um concurso público arranja-se um regulamento medido pelos interesses privados e uma comissão que vergará o concurso de forma a colocar um apaniguado. A democracia está desacreditada e a lógica do “homem lobo do outro homem” impera. A coesão social, que permitia ver no vizinho um amigo e avisá-lo de tudo o que fosse suspeito, perdeu-se e cada um é “um órfão numa ilha deserta entregue aos seus próprios recursos”. Vivemos de costas uns para os outros, não acreditamos nos partidos, esvaziou-se o interesse público, desapareceu o bem-comum.
Nestas circunstância, os mais marginalizados ( e são sempre os diferentes “os que não pertencem “à mesma raça”) estão em condições de lhe passar pela cabeça a vontade de se vingar contra o rolo compressor que os oprime. Aparecem, enão, os lobos solitários do terrorismo. E não lhes é difícil conseguir os apoios monetários e logísticos para poderem espalhar o terror em nome de uma religião que julgam lhes dará a recompensa.
Em vez de derramar lágrimas de crocodilo, seria melhor dignificar a democracia; em vez de criar uma sociedade com um polícia atrás de cada um de nós, seria melhor meter na cadeia os corruptos que se vão assenhoreando do bem público, que funcionam na política como as máfias (consideram há os nossos e os outros), não respeitam as regras que defime a democracia e pensam que ganhando uma eleição podem transformar aquilo que é de todos num bem pessoal, administrado segundo os humores ou interesses pessoais.

quarta-feira, julho 13, 2016

 

Carmem Miranda


O novo riquismo, manifesta-se sempre da mesma maneira: na vida cívica despreza a família pobre e na política os que são de esquerda. Ele não quer que o associem a estes, porque são “porcos e sujos”, mesmo que a eles deva o estatuto que  obteve.

Carmem Miranda partiu para o Brasil com quase dois anos de idade. Porque se tornou cidadã brasileira (e por ser uma mulher bonita) conseguiu aos 30 anos (com a significativa canção “Para você gostar de mim!” de um grande compositor, Joubert de Carvalho)  ganhar  a fama que teve.

Só falta agora dizer, que veio ao Marco (ela dizia que era da Légua, Várzea de Ovelha e não do Marco) tirar o passaporte, dado “generosamente”, para poder abraçar a sua carreira em Los Angeles e se fixar nas telas do cinema de Hollywood

Deve tudo ao facto da sua família, pobre, ter, como muitas outras, emigrado para o Brasil, porque em Portugal os pobres ficavam sempre pobres, como acontece ainda hoje!

Esquecendo esse facto, cavalga-se a sua fama com  desfile de samba, que terá levado Carmem Miranda, lá no seu túmulo, a esconder a cara.
https://www.youtube.com/watch?v=V6v7HFVjObk 


segunda-feira, julho 11, 2016

 

Uma certa perversão!


Quando, há já bastantes anos, apresentamos o primeiro plano de actividades da Associação dos Amigos do Concelho do Marco de Canaveses, indicávamos, como uma das iniciativas, a criação da confraria do anho assado com arroz no forno. Explicávamos, na altura, que essa iniciativa teria os seguintes objectivos: difundir a gastronomia que fazia a identidade do Concelho, promover os restaurantes que mantinham a tradição de seguir a receita do anho com arroz no forno, desenvolver o turismo gastronómico e estimular a preservação de uma receita que vinha dos nossos avós e foi por eles recebida dos seus antepassados.

Para nós, a Confraria só tinha sentido se recuperasse o significado que lhe foi dado em tempos medievais: ser uma associação de gente generosa, solidária e só interessada em defender a causa dos que mais precisam: neste caso, a restauração tradicional. Naturalmente, aceitávamos “fardarmo-nos” com os velhos adereços dos confrades, ícones da tradição, mas o mais importante era manter a memória do gosto que o anho assado com arroz no forno deixava sempre que íamos a um dos restaurantes tradicionais: ao Ferrador, à Pensão Magalhães ou outros. Estávamos longe de imaginar que a confraria se tornasse numa feira de vaidades, num cerimonial longo, chato e cansativo, com discursos intermináveis que se sucedem a outros discursos tão intermináveis como os primeiros, com protocolo (o que contraria o espírito confrade)  e desligada dos próprios restaurantes que são a razão de ser da manutenção do património gastronómico.

Dizem-me que não é assim noutras terras, onde as confrarias são expressão de um exercício de cidadania e convívio desensarilhado da vida mundana, como aliás, é já o estilo do actual presidente da República. A perversão parece vir da sofreguidão dos homens do poder político que querem estar em bicos de pé e investir na visibilidade da sua gente para colher frutos na faina eleitoral.  Talvez, por isso, os partidos anti-sistema, os que são contra uma democracia que vai perdendo as suas virtudes (o que não quer dizer antidemocráticos) ganhem cada vez mais força.
Fico triste que assim aconteça e percebo por que é que a Associação (cultural e cívica) dos Amigos do Marco lhe faltam os melhor estímulos.

 

Um gesto lindo!


Parece que o Presidente da República convidou para a recepção à Selecção Nacional o menino que consolou o adepto francês que chorava. O convite do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, a ser verdade, revela uma magnanimidade que tem da minha arte a maior admiração. É um gesto muito rico de sensibilidade humana, que prestigia um presidente da República e honra  o sentido universal de um povo afectuoso e humano, como é a maioria dos portugueses. Parabéns, Marcelo amigo! O povo, de facto está contigo, mesmo os que não votaram em ti, como é o meu caso! https://www.youtube.com/watch?v=8BjrHuUfCFU 


sexta-feira, julho 08, 2016

 

Preciso de um poema!


Preciso de um poema. Sinto-me como a andorina deixada pelo bando que emigrou, numa altura em que até as andorinhas não tiveram a primavera.


Só Sophia me ajuda, me compreende, com este seu poema:


Esta gente cujo rosto
Às vezes luminoso
E outras vezes tosco

Ora me lembra escravos
Ora me lembra reis

Faz renascer meu gosto
De luta e de combate
Contra o abutre e a cobra
O porco e o milhafre

Pois a gente que tem
O rosto desenhado
Por paciência e fome
É a gente em quem
Um país ocupado
Escreve o seu nome

E em frente desta gente
Ignorada e pisada
Como a pedra do chão
E mais do que a pedra
Humilhada e calcada

Meu canto se renova
E recomeço a busca
De um país liberto
De uma vida limpa
E de um tempo justo

Sophia de Mello Breyner Andresen, in "Geografia"


quarta-feira, julho 06, 2016

 

e lá vamos desta vez contra os burlões
contra as mekeles e outros da treta
esmerando-nos em magros calções
e ganha força a feliz cotonette

sai empate e mais empate
só falta a Merkel ir de vela
a bola traz-nos mais sustento
dobrar a cerviz só para velhos.



Ficamos pasmando espapaçados
crivados por bolas e taticismos
futeboleiros e outros comentadeiros
fazem da selecção o nosso catecismo.

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