quinta-feira, agosto 27, 2015

 
Gostei da entrevista de Jerónimo de Sousa. Esclareceu o seu programa, não caiu naquele vício de jorrar palavras para abafar perguntas e numa linguagem muito simples e rica de empatia falou como quem sente sinceramente o mundo da vida.
Teima-se em atribuir ao PCP um ligeiro crescimento nas sondagens e reduzir a vitória das eleições a uma disputa renhida entre a coligação e o PS. No que posso constatar nas ruas, nos cafés, nas conversas de circunstância é que todos me dizem que não votarão neste desgoverno. Não sei quem são os inquiridos nessas sondagens, a que universo de eleitores correspondem, mas nos seus resultados até parece que os lesados do BES votam PSD/CDS.

Ou me engano muito ou, mesmo com a propaganda maciça que os meios de comunicação fazem do governo, as próximas eleições vão surpreender muita gente. Espero bem que sim!

segunda-feira, agosto 24, 2015

 

Portugal fez-se aldeia encardida!

Com o terminar das festas religiosas, os emigrantes vão partindo para os países onde encontraram o trabalho que precisavam para recuperar os sonhos dissipados pela desgovernação. O interior, como diria Raul Brandão, vai-se tornando aldeia encardida. E só as figueiras bravas conseguem meter-se nos interstícios das pedras e delas extrair suco e vida. Como nos tempos do homem das botas, só se vê velhas vestidas de negro, com o peito raso, onde se descobre que a tristeza remói saudades. E como a existência não tem cor, dela só dão conta ao cair da noite.
Na minha aldeia o dia a dia já se faz de rotina e as promessas eleitorais, quando ouvidas, recebem o “pois sim!.... pois sim!...” duma sabedoria feita a pulso da desilusão. A ambição deixou de avançar: ficou amarrada ao medo do amanhã!

terça-feira, agosto 18, 2015

 

Os vicios do PS


Dois vícios dominam o PS: a soberba do poder e o tacticismo. Maria de Belém quer ser candidata a deputado, presidente da república e dizer que Seguro, que a colocou na presidência do partido (e foi contestada pelos não seguristas) ainda existe. Podia preferir envolver-se com o Secretário geral do PS, António Costa, nas denuncias da desgovernação do PS, mas prefere um outro lugar, onde seja espectáculo, dando com esse "número"aos comentadeiros da TV a matéria para ocuparem as suas lucubrações semanais, enquanto um em cada cinco trabalhadores recebe, em Portugal, menos que o ordenado mínimo. A este espectáculo, Costa poderia dizer "o candidato da minha liderança já existe, é Sampaio da Nóvoa". Mas preferiu o tacticismo: não se pronuncia, deixa o mercado das presidenciais funcionar e diz que o PS é plural(cada um escolhe o que lhe agrada, sem se preocupar em convergir nas soluções para todos).  E assim abriu ruído em torno de tudo aquilo que muito interessa à desgovernação da coligação: falar-se da candidatura de Maria de Belém, dizer-se que é mais à direita que Sampaio da Nóvoa, que os seguristas estão a marcar a agenda política do PS, etc. Tudo o que a gente sabe, mas não tem relevância comparado com a fome, a miséria, o problema dos velhos, do futuro para os mais novos, etc. Só é importante para deixar em roda livre um governo que se alimenta da mentira, da falsificação, da demagogia, etc. 

A soberba e o tacticismo tornaram o PS num partido autofágico. Ninguém gosta de quem não tenha frontalidade, não seja capaz de dar um murro na mesa e dizer acabou-se a balbúrdia.

O PS parece não querer ganhar as eleições. Basta olhar para os promotores da candidatura de Maria de Belém para se pensar que só lá falta Passos Coelho e Portas. É, de facto, uma candidatura muito mais á direita que a de Sampaio da Nóvoa. Deixa, no entanto, uma interrogação: em que é que o PS, como organização que deveria tomar parte por uma ideologia, uma concepção do homem, da vida e do mundo, quer ser diferente da coligação? Se é só na conversa, é muito pouco!...

quinta-feira, agosto 13, 2015

 

À laia duma reflexão!






Não acredito que esteja inscrito no gene do ser humano a maldade ou a bondade. Não estou com Hobbes nem com Rousseau. Estou mais com a ideia de Ortega y Gasset. “Cada um de nós é ele mesmo e as suas circunstâncias, e se não salvamos as circunstâncias em que vivemos, não nos salvamos a nós próprios”.
Penso que a maior revolução no pensamento humano, a que permitiu ter referências para salvar as circunstâncias em que o homem vive,  se deu com a ideia de que todo o ser humano é filho de deus. Não sou católico, mas devo ao catolicismo esse sentido de fraternidade e foi nesta sensibilidade que se configurou a minha ideologia. Não vejo que as cruzadas, a inquisição, as guerras religiosas tenham a ver com o pensamento religioso, mas antes foram sempre o braço armado do pensamento secular.
Acredito na educação humanista, feita pelos valores e direitos humanos, no compromisso com uma cidade mais justa. Penso que sem esse compromisso, faltando essa educação, havendo outras circunstâncias, se possam configurar outros modos de pensar.

Li, hoje, que Beatus Rhenanus no séc. XVI escreveu: “Nós, alemães, não somos romanos, somos germanos. Mas por causa da forma imperial que herdamos, somos os sucessores naturais e jurídicos de Roma.  Estamos, por isso, revestidos de um poder imperial e só podemos exercer esse poder submetendo os povos vizinhos”.
Em 1918, Augustin Hamon escrevia . “Os alemães sempre fizeram da força (e do poder financeiro) o direito e foi assim que declarando guerra se apropriaram dos bens dos povos seus vizinhos, porque consideram que a raça germânica é a única superior, eleita por Deus, escolhida para comandar o mundo".
Parece, assim, que desde tempos muitos remotos o pensamento dominante alemão aproxima-se mais de Hobbes do que de Rousseau. Por que será?


A minha ideia é a seguinte: depois da Segunda Guerra Mundial, os aliados colocaram muitas limitações à Alemanha para impedirem essa tendência imperialista, mas falharam no objectivo principal: obrigar o seu povo a ser educado nos princípios e valores, que fizeram da civilização europeia uma civilização cristã, como a tolerância, o respeito por outros povos, a generosidade e a fraternidade. E, ainda, promover a democracia como um método de levar uma nação à interajuda e escolher um governo que diminuísse o sofrimento dos que mais sofrem.


Não criando este objectivo, o poder alemão voltou a reincarnar o papel do Leviatã, com o mesmo espírito descrito no séc. XV por Beatus Rhenanus e, em 1918, por Augustin Hamon. Mas o pior é que os valores que contrariavam o expansionismo alemão, o seu nazismo, o seu imperialismo financeiro, em suma, a tendência para se afirmar como um Leviatã, também se perderam na substância da democracia dos povos que lutaram contra o imperialismo alemão.


A democracia abandonou o pensamento critico, o pensamento humanista, os valores que nasceram com o cristianismo e fizeram a nossa civilização. A democracia cedeu ao pensamento imediato, ao pragmatismo e ao oportunismo. Tornou-se num espectáculo onde se escolhem cabeças de governantes com o mesmo marketing com que se escolhem sabonetes.


A Europa perdeu o rumo que lhe dava sentido e o melhor é voltar cada País a olhar pelo seu próprio destino. Precisamos de pôr fim a uma ilusão para que regressem as utopias.



segunda-feira, agosto 10, 2015

 

debate de Corrreias e Lda.

Estive a ouvir na SIC Ângelo Correia e Correia de Campos. É sempre bom ouvir gente inteligente! O debate nada tem a ver com os reais problemas, os que são sentidos no dia a dia dos portugueses. É sobretudo um jogo de xadrez, onde cada um procura colocar as suas pedras no lugar do poder. E este é sobretudo o efeito de persuasão do discurso político, quer seja usado por um Correia ou pelo outro. É sempre de correia de transmissão que se trata. Até se elogiam um ao outro para legitimarem o estilo de sedução do debate. E, em certos momentos, até parece uma performance da estética política.
O árbitro desse jogo é só um: a Sra. Merkel! E ambos se preocupam com o que, paradoxalmente, aceitam: a diminuição da nossa soberania.
Como conclusão, primeira, segunda ou, talvez, terceira, Ângelo Correia assegura que o PS pode ganhar as eleições, mas, na sua convicção, quem as vai ganhar é a coligação. E explica: António Costa perdeu força de persuasão e ao seu candidato a Belém (Sampaio da Nóvoa) aconteceu o mesmo.
O debate derivou, depois, para o problema de como governar sem maioria. António Correia de Campos garante que o PC não vai repetir o erro histórico: fazer cair um governo de esquerda para permitir que depois venha um governo de direita. E logo Ângelo Correia, socorrendo-se do seu instinto conspirativo, que lhe veio da PSICO nos tempos de tropa, se tornou assertivo: Então, Você já diz que o PS tem uma coligação escondida com o PC.
António Correia Campos entrou em pânico. Estava longe de pensar que o seu argumento poderia fazer desabar sobre ele tão grave suspeita. Negou, voltou a negar e não foi preciso que o galo cantasse três vezes para sabermos que o seu pânico não era mentira.
Quem entra nos cafés, nos transportes públicos, etc., e tem por hábito falar com as pessoas, percebe que o mundo dos Correias, sejam anjeli ou agri, é diferente do mundo real, do mundo onde pulsa a vida, porque é preciso ir á padaria, ao mercado, pagar a renda de casa, encontrar dinheiro para comprar leite para os filhos, etc. A gente deste mundo está-se marimbando para os debates na SIC. Está zangada com a política e fala sobretudo dos políticos que conhece, da sua transição de pobretanas para ricos, de arrogantes para mendigos de votos e tem pelos partidos que eles representam profundo desprezo. Penso que esta gente integra os que não querem saber do boletim de votos e os tais cerca de 20 ou 30% que não se pronunciam nas sondagens. Se esta gente zangada tivesse alguém que lhes desse um sentido para o rumo que ela quer, isto virava mesmo!
Mas não tem quem lhes dê um sinal de rumo diferente daquele que ela sente. Sampaio da Nóvoa é-lhes ausente, os partidos de esquerda também e o PC ainda é olhado como há 50 anos.
Este drama, acaba por dar importância ao espectáculo performativo do arco da consciência política tranquila: Ângelo e Campos, Lda. A política vai-se decidir por uma minoria de votos nesse jogo de xadrez. Não se sabe quem ganha, mas sabe-se que as pedras do jogo não convencem ninguém!
É terrível esta situação, mas não vejo que a esquerda tenha rostos para fazer acreditar a mudança que a grande maioria quer, e que eu sei que Sampaio da Nóvoa, muita gente do BE, do Tempo de Avançar e do PC podiam dar. E só era preciso que tivessem gente humana e vertical a representa-la nos locais de trabalho, nos cafés, em todos os sítios onde pulula o mundo da vida que sofre com o desemprego que não vem nas estatísticas, com a falta de cuidados de saúde que não são notícia, com a esperança de um futuro melhor que não vem dos espectáculos da luta da consciência instalada no arco do poder.








 

Que tristeza!...


Não consigo descortinar o interesse do PS em repetir a experiência que levou Mário Soares e Manuel Alegre perderem a candidatura  à Presidência da República em favor do senhor Silva. Maria de Belém saiu de ministra da saúde e foi administrar um hospital privado, ligado ao BES, o que é fazer o mesmo que a direita faz. Pode ser muita boa pessoa, mas o seu socialismo é, pelo menos esquisito. Depois, até no PS foi pedida a sua demissão de presidente do partido, o que é significativo. Tudo isto não se esquece.

Entretanto, a lógica do  directório do PS continua com o defeito de parecer mais um grupo de oligarquias que um partido: cria a expectativa de um bom candidato abrangente a toda a esquerda, faz dele uma bandeira num congresso. Depois, um dos lóbbys oligárquicos, dos chamados notáveis, diz: é melhor experimentarmos outro, está mais ligado a nós e serve melhor os nossos objectivos.

E este caminho, de chauvinismo oligárquico num mesmo partido, vai dando os seus frutos: foi assim  que a divisão Mário Soares e Manuel Alegre entregou a presidência da República ao  Sr. Silva. E, agora, prepara-se para entregar a Presidência ao camaleonismo do professor Marcelo ou a outro notável do mesmo género.

Este PS tem horror à abrangência de esquerda e não repara que vai ficando cada vez mais reduzido. É que a direita, mesmo aqueles que não gostam deste desgoverno, vota sempre nos seus candidatos. E não ganha por ser maioritária, mas porque a esquerda não consegue encontrar denominadores comuns nas suas diferenças, por velhos ódios, antigos preconceitos e muito pouco sentido de estado, embora disponha de uma grande maioria eleitoral.

Tenho amigos que me dizem: o PS não é para levar a sério e às vezes sou obrigado a dar-lhes razão.

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