sábado, maio 16, 2015

 

Vou a um almoço de confraternização dos ex-alunos do Colégio D. João III. Vou convencido de que não há musica, não há sonhos, não há amigos como antigamente. Não é revivalismo, é ter necessidade de sorrir e olhar com a generosidade da adolescência,  é correr pelas margens do Tâmega à espera de ser o primeiro no salto para onde as águas se acalmavam da sua rudeza, é arar com companheiros os campos onde fertilizava a vida dos sonhos.

Preciso de erguer a lira dos cânticos do tempo que se perdeu há mais de meio século. Preciso de não me fartar de ver cruzadas, frias e tristes as mãos com que firmai afectos. Preciso de dizer as palavras que no último azul da tarde construíam a esperada intimidade do dia. Preciso que o tempo no trémulo recolher da noite me vá  aguentando os últimos sonhos.

Até  amanhã amigos!

sexta-feira, maio 15, 2015

 

Diz o secretário de estado Sérgio Monteiro: “os portugueses não querem saber se a TAP deve ser pública ou privada”. Mas não perguntou  e avocar a si a opinião dos portugueses é um exercício que ninguém delegou neste governo, a menos que considere que  já fez um golpe de estado.

O que é certo é que as privatizações através da história empobreceram os países e enriqueceram os privados, aumentaram os despedimentos, os preços dos bens que disponibilizam, diminuíram vencimentos e tornaram o país que tudo privatizou numa colónia dos novos senhores. E a prova disso, é que os privados não adquirem o que dá (segundo o governo) prejuízo para não terem chorudos lucros.

Além disso, com as privatizações altera-se o modo de ser e viver do país colonizado, desprotegendo os seus cidadãos dos abusos e prepotências dos novos senhores.

Por isso, ser contra as privatizações é defender a nossa independência, o nosso carácter, a nossa dignidade colectiva.

sexta-feira, maio 08, 2015

 

Comemora-se, hoje, o fim da Grande Guerra. No tratado de Versalhes, que impôs o castigo á Alemanha, participou, como conselheiro, o célebre economista Keynes. Não chegou a terminar as suas funções: demitiu-se por considerar desastrosas as imposições que foram impostas á Alemanha e aventava que as mesmas levariam a uma Segunda Guerra, como infelizmente aconteceu. Hoje, a Troika bem poderia reflectir nessa circunstância: a história demonstra que tende sempre a aparecer quem, tragicamente, faça a vingança das humilhações sofridas por um povo.

Nenhum acontecimento teve, na vida de todos os povos, mais implicações sociais, políticas e culturais do que a Grande Guerra. Desenvolveu-se á escala global, não havendo praticamente nenhuma nação que, directa ou indirectamente, não estivesse envolvida nos combates.

Desenhou o novo mapa da Europa e da África, alimentou revoluções, como a Revolução Russa,  causou milhões de vitimas, entre mortos, gazeados e estropiados, obrigou a cativeiro, em condições deploráveis, milhares e milhares de homens.

Entre nós, a guerra deixou muitas aldeias despovoadas, muitas vidas destroçadas. Sangrou a alma do nosso povo com a amargura e tristeza de ver os seus filhos partir para a Flandres e para África, deixando a angústia de não saber o que lhes aconteceria.

Entre familiares que participaram na Grande Guerra esteve um parente do meu avô: o Coronel médico-cirurgião Fernando de Miranda Monterroso. Foi o responsável pela formação de saúde conhecida por ambulância nº1. E chegou a ser o director do hospital Português. Escrevi, com um amigo, o coronel Virgílio Barreto Magalhães um livro sobre este parente, talvez o mais medalhado do exército português.

O Dr. Fernando Monterroso não foi só um herói de guerra, foi também um benemérito: a sua expensas construiu o Asilo do Marco.

Foi para que a memória deste Herói de guerra e benemérito não fosse esquecida que o escrevemos.  Teve o apoio da Câmara Municipal do Marco, onde pode ser adquirido.

 

A propósito da dita biografia.

Estou a ouvir Pacheco Pereira  na “Quadratura do circulo”
Fala sobre o livro “Biografia de Passos Coelho” feito por uma funcionária do PSD. Diz que é enfadonho, mal escrito e não traz nada de relevante; que é significativo ser omisso em relação á carreira profissional e  académica do primeiro ministro. Todo o elogio, atrás de elogio, é um exercício no vazio.
Suponho que, mesmo sem ler o livro, toda a gente concordará com Pacheco Pereira e o lambebotismo de Carlos das Moedas contribui para se perceber que toda a propaganda gerada em volta de Passos Coelho é de tão mau gosto que ultrapassa o enganoso e torna-se fedorenta.
Não vale, por isso, a pena plagiar Eça, na “Correspondência de Fradique Mendes” e dizer: “O livro é, com efeito, o fole incansável que assopra a propaganda da vaidade de Passos Coelho, lhe irrita e lhe espalha a mediocridade, fazendo desta a sua relevância”. Também não vale a pena sugerir que Passos Coelho o substitua, na Casa de Massamá, pelo papel higiénico e insista no esfregar no olho até que o dito possa entender essas milhares e milhares de letras enfadonhas. E se não o conseguir que a sua escriba lhe lembre o pensamento de Saramago, Prémio Nobel, quando diz:”(…) quando a vaidade serve tanta cagança é perguntar: para quê?!....”
Lobo Xavier, procurando dar volta á biografia,  vê nessa cagança a marca da superioridade de Passos Coelho e eu até concordo!

domingo, maio 03, 2015

 

Poema à Mãe


Poema à Mãe


No mais fundo de ti,
eu sei que traí, mãe

Tudo porque já não sou
o retrato adormecido
no fundo dos teus olhos.

Tudo porque tu ignoras
que há leitos onde o frio não se demora
e noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
são duras, mãe,
e o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
que apertava junto ao coração
no retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
esqueceste que as minhas pernas cresceram,
que todo o meu corpo cresceu,
e até o meu coração
ficou enorme, mãe!

Olha — queres ouvir-me? —
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;

ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;

ainda oiço a tua voz:
          Era uma vez uma princesa
          no meio de um laranjal...


Mas — tu sabes — a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber,

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

Eugénio de Andrade, in "Os Amantes Sem Dinheiro"

sexta-feira, maio 01, 2015

 

Viva o 1º de Maio!


Viva o 1º de Maio, vivam os que  pelo trabalho fazem com que os campos dêem pão, as máquinas produzam o que precisámos e os serviços das instituições funcionem.

Viva o direito ao trabalho e honra seja dada ao trabalhador operário, agrícola, nos serviços de educação e administrativos.

Viva a internacional solidariedade com o mundo do trabalho.

Hoje, é o 1º de Maio que não estou na Praça da Liberdade, mas  ai ficará a minha alma, o meu desejo de manifestar todos estes vivas e de me solidarizar com todos os que querem o trabalho a que têm direito, mas é-lhes negado.

Solidarizo-me também com a memória das mulheres e homens que em 1886 foram criminosamente mortos e reprimidos numa manifestação em Chicago pelo direito ao Trabalho.

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