segunda-feira, setembro 24, 2012

 
As sarnas de barões todos inchados
Eleitos pela plebe lusitana
Que agora se encontram instalados
Fazendo o que lhes dá na real gana
Nos seus poleiros bem engalanados,
Mais do que permite a decência humana,
Olvidam-se do quanto proclamaram
Em campanhas com que nos enganaram!
II
E também as jogadas habilidosas
Daqueles tais que foram dilatando
Contas bancárias ignominiosas,
Do Minho ao Algarve tudo devastando,
Guardam para si as coisas valiosas
Desprezam quem de fome vai chorando!
Gritando levarei, se tiver arte,
Esta falta de vergonha a toda a parte!
III
Falem da crise grega todo o ano!
E das aflições que à Europa deram;
Calem-se aqueles que por engano
Votaram no refugo que elegeram!
Que a mim mete-me nojo o peito ufano
De crápulas que só enriqueceram
Com a prática de trafulhice tanta
Que andarem à solta só me espanta.
IV
E vós, ninfas do Ovelha onde eu nado
Por quem sempre senti carinho ardente
Não me deixeis agora abandonado
E concedei engenho à minha mente,
De modo a que possa, convosco ao lado,
Desmascarar de forma eloquente
Aqueles que já têm no seu gene
A besta horrível do poder perene!




 
Fui ao jantar, no Marco de Canaveses, de apresentação do livro “Teologia e Interpretação”, primeira coletânea de textos de um amigo de há muitos e muitos anos, Prof. Arnaldo de Pinho, que, este ano se jubilou, como professor da U.C.

Fala, neste volume, sobre o valor da palavra (no seu dizer) na sua relação com a crença.

O problema da crença não é só um problema da teologia, mas também da filosofia: a nossa vida orienta-se por crenças e não é possível viver num pragmatismo despido de transcendência.

O Professor Arnaldo de Pinho pensa a relação entre a teologia e a filosofia numa perspetiva hermenêutica, tendo em conta as interrogações que a palavra, ao “desvelar o ser”, responde.

Comecei a ler o livro e é estimulante perceber que na reflexão sobre a linguagem da fé, há a influência do pensamento de Heidegger, o último filósofo sistemático que o Professor jubilado conheceu (um dos poucos portugueses que teve esse privilégio), num dos seminários de Zollikon, nos arredores de Zurique, que o Filósofo orientava.

As preocupações com o sentido da existência não são indiferentes à problemática que o pensamento sábio do teólogo e ex-secretário de D. António Ferreira Gomes desenvolve neste livro.

Foi agradável (e isso sublinhado pelos presentes) que o atual Presidente da Autarquia, Manuel Moreira, não tivesse ficado indiferente ao evento, comparecendo para dar um abraço ao seu amigo prof. Arnaldo de Pinho


É a Editora Letras & Coisas, de Nuno Higino, que dá á estampa o pensamento do prof. Arnaldo de Pinho em 5 volumes.


domingo, setembro 23, 2012

 
Cheguei do campo com uma tristeza feita de indignação. Sempre quis um governo que pensasse o País, com olhos de portugueses, sempre pensei que o trabalho é um dever e, por isso, um direito, sempre acreditei que só a democracia poderia respeitar a dignidade do ser humano, sempre julguei que aqueles a quem os eleitores deram o poder eram suportáveis.

Sinto-me engado nas expectativas que criei. Já não suporte esta gente, gente estrangeirada, incompetente, que faz do País uma cobaia dos friedmans que arruinaram a vida de muitos povos, como, por exemplo, o povo chileno.

Não será cabotinice pensar que não há alternativas?!...

O sacristão da paróquia da Folhada, (minha freguesia) tem tanto bom senso, é humilde, transparente, pensa os problemas dos outros como pensa os seus próprios problemas, configurando um ótimo perfil para governar (é certo que veste mal, mas viveu sempre do seu trabalho e é honesto).

Será que temos de aceitar este fatalismo absurdo, esquizofrénica, de sermos governados por gente que ninguém gostaria de ter como porteiros e já ninguém suporta o seu ruído vampiresco de cigarras?!...

http://visao.sapo.pt/o-que-inspira-gaspar=f687573


domingo, setembro 16, 2012

 

Em causa a democracia!

O problema já não é só a divida, mas a própria legitimidade deste Governo, legitimidade informal, se quiserem.

Como poderá continuar este Governo, se os que o elegeram já lhes viraram as costas? Em nome de quem pode tomar decisões, se deixou de representar os cidadãos?

Não reparam no estado de espírito dos cidadãos? Querem que a democracia seja um regime que não representa o povo?

É certo que o problema não é só português, mas o mal dos outros não nos faz nada bem!


 

Estou farto dos comentadores economistas!

A economia tornou-se numa teologia da escravização.

Os seus teólogos dominam os comentários políticos, fazem de nós um frio dígito dos seus modelos matemáticos, dizem que compreendem a imensa multidão de indignados que ontem saiu à rua, mas não sentem desconforto no carnaval da imoralidade, da corrupção, da roubalheira que provocou o protesto.


O mundo, para esses teólogos da escravização, é uma máquina de calcular. Elevaram à divindade os números frios do cálculo e fazem-nos crer que a crise é um castigo sobre a humanidade que gozou o direito a comprar casa, ter filhos, sorrir numa tarde de verão, afivelar sorrisos, ter direito ao amor, à honra, à dignidade, á solidariedade e a escolher entre o mal e o bem.

Estes teólogos elevaram a economia a ciência certa e não têm em conta as imensas variáveis que a tornam na disciplina mais incerta, mais sujeita ao princípio cautelar da prudência. Esses economistas, que cobram a nossa alma por tempos de antena milionariamente pagos, são feiticeiros das “amarrações” dos números.

Mas para que servirá a economia, se a tornam num pesadelo para as nossas vidas, se é incapaz de afeiçoar a nossa alma ao que faz com que a vida mereça a pena ser vivida?!...

Quando perceberá isso a televisão, os jornais, a rádio?

Precisamos tanto de poetas, os que melhor compreendem os silêncios sobre a dor, o movimento azul da esperança, os olhos humedecidos do solidário, os sonhos onde labora o amor, os sorrisos que se entrelaçam nos olhares de crianças!

Estou farto dessa gente!


quinta-feira, setembro 13, 2012

 

Todos à manifestação!

No 25 de Abril não dormi três dias, hoje pelas mesmas razões não dormiria 6 dias.

Vivemos um tempo semelhante ao vivido por Galileu, pior do que o vivido pela ditadura salazarenta. Toda a gente, comunidade científica, sindicatos, patrões e gente de todos os quadrantes está convencida que não é o Sol que nasce e se põe todos os dias, mas o Ministro das Finanças , o Cardela Roberto Bellarmino, obsecado com o seu modelo neoliberal-ptolemaico quer que a realidade se ajuste à sua paranoia. E estamos a ser queimados vivos.

Amanhã, um dia destes, o PSD e o CDS , quando precisarem do votinho para alimentar as suas ganâncias, vão pedir desculpa . Culpabilizarão da loucura o seu Roberto Bellarmino, o Gaspar do estilo pio, cinico e piroso, os Antónios Borges e os bobos da corte, Coelho e Portas,e, ainda, o Demoníaco Ofício da Troika. Mas todos esses estrangeirados, que não pensam com a cabeça encostada ao coração do povo, já se piraram e nós é que fomos queimados vivos.

Para não esperarmos amarrados á lenha onde somos queimados vivos, Sábado temos de manifestar a nossa revolta. Temos de correr com este Governo. Este Governo tem de ir ao psiquiátra e queremos gente normal a governar.

Estou disponível para não dormir durante 6 dias. Precisamos de um poutro 25 de Abril


segunda-feira, setembro 10, 2012

 

Proliferam as seitas.

Enviei para o Semanário Grande Porto este texto:


De aldeia em aldeia, vai sendo anunciada a “boa-nova” por seitas religiosas que vão ganhando adeptos por todo o País. Abrem a Bíblia, apelam à resignação e, em troca, garantem a felicidade no outro mundo.

A proliferação de seitas resulta da fragilização humana que vem dos medos do que poderá ser o amanhã, da descrença de tudo o que até agora ainda servia de referência, descrença não só da religião tradicional, mas também dos políticos, dos partidos, das instituições, do próprio sistema democrático e, de forma mais brutal, deste Governo.

Nenhum governo foi capaz de produzir na nossa consciência coletiva tanta insegurança, tantos receios, tanto sentimento de deriva, como este. Só no tempo de Salazar havia coisa parecida, mas, nessa altura, a pressão da tradição ajudava a Igreja Católica a dar um sentido ao desalento.

Mas a tradição já não é o que era e a desilusão tornou-se na nossa doença coletiva, como diria Pessoa, “cansaço de viver” uma vida que deixou de se assemelhar à vida que julgamos ter direito a viver.

Não se vê como sair de um desespero que faz uma revolta surda. Somos vítimas dos desmandos de outros, desenraizaram-nos da nossa história, dos nossos valores e Portugal já não é a pátria onde nascemos, criamos os nossos filhos, nos orgulhávamos da sua história e sonhávamos com um futuro de vida melhor.

Fizeram de Portugal uma coisa que é vendida em papel de celofane para nos emprestarem dinheiro que logo escorrega para os bolsos de quem nos desgraçou.

Portugal converteu-se num sitio de onde se quer fugir, envergonhados de uma crescente miséria imerecida. A economia deixou de ter uma função social para visar apenas o lucro e o desemprego fez um rasgão na nossa coesão social.

Já não vivemos como um povo, mas como uma multidão desesperada. Ninguém leva a sério a retórica dos maiores partidos mergulhados na suspeita e na corrupção moral, a democracia converteu-se num regime de uma nomenklatura e já nem sequer representa os interesses de uma maioria. Cimentou-se a ideia de que somos governados por mixordeiros que dizem uma coisa e fazem outra, aparentam ser o que não são, não têm carácter, rompem à medida dos seus interesses todos os contratos eleitorais e sociais e subjugam-nos com um cenário esotérico: apresentam-nos, como salvadores, uma espécie de força do mal (a que chamam troika) que comanda, pelo absurdo, as nossas vidas concretas.

Neste contexto de irracionalidade e deriva, as promessas deste mundo são ocas, não inspiram confiança. A própria religião tradicional, com honrosas exceções, esqueceu o Deus que se fez homem para dar um sentido a este mundo, correr com os fariseus e os vendilhões dos templos. O uso da razão ficou sem apoios, sem lideranças que enquadrem a luta por um mundo melhor. Não nos admiremos, por isso, que o regredir na economia, na cultura, na dignidade da nação, nos direitos sociais, políticos e cívicos esteja a lançar os mais desesperados para os braços das seitas, como se atiram as crianças sem afetos para o colo das amas assalariadas.


 

Basta!

Não se vê como sair de um desespero que faz uma revolta surda. Estamos desenraizados da nossa história, dos nossos valores e Portugal já não é a pátria, o retângulo onde nascemos, criamos os nossos filhos, nos orgulhávamos duma história e sonhávamos um futuro de vida melhor.

Portugal é, hoje, uma coisa que os portugueses não sentem como sua e é vendida em papel de celofane para nos emprestarem dinheiro que logo escorrega para os bolsos de quem nos desgraçaram.

Portugal é um sitio de onde se quer fugir envergonhados de uma crescente miséria imerecida. A economia deixou de ter uma função social para visar apenas o lucro, o desemprego tornou-se num rasgão do tecido social, despareceu a autoridade moral das instituições, partidarizou-se o aparelho de Estado, estabeleceram-se redes clientelares, ninguém leva a sério a retórica dos partidos, a democracia converteu-se num regime de uma nomenklatura e já nem sequer representa os interesses de uma maioria e cimentou-se a ideia de que somos governados por mixordeiros que dizem uma coisa e fazem outra, aparentam ser o que não são, não têm carácter, rompem á medida das circunstâncias todos os contratos eleitorais e sociais e subjugam-nos com um cenário esotérico: apresentam-nos como salvadores uma espécie de força do mal que comanda pelo absurdo as nossas vidas concretas e recebe o nome de Troika.


Precisamos de unir todas as solidões, romper a amargura que nos revolta e ganhar força para no dia 15 dizer basta!

Basa de tanta vilania. Para pior já não é possível.


domingo, setembro 09, 2012

 

O meu comentário no facebook de Passos Coelho

Procurei deixar este desabafo, em forma de comentário, mas não sei se consegui. De qualquer forma aqui fica e alguém lhe levará o recado que transcrevo:

http://noticias.sapo.pt/nacional/artigo/passos-coelho-escreve-mensagem-p_4778.html  

"O Senhor e quem o acompanha julgam-se possuídos duma linha justa, sem alternativas, como os talibãs da sua crença.

Portugal é um povo e não uma figura de retórica.

O Senhor recorrentemente invoca a boa imagem de Portugal junto dos seus credores, como se estes se preocupassem com outra coisa que não fosse apenas os seus lucros agiotas.

O Senhor não entende que Portugal são os portugueses e não uma figura abstrata de retórica. E, por isso, os humilha sem sentido (com as medidas que impõe só faz aumentar a dívida, estrangular a economia e quem não emigra está ameaçado pela miséria), retira-lhe a dignidade que lhes dá sentido de ser português, esvazia o valor do trabalho, faz do emprego um posto para ser ocupado com salários de miséria, não sabe que ter uma profissão é encontrar um sentido para a existência e sem emprego é perder tudo o que dá dignidade a um ser humano.

Os seus desmandos devastadores resultam de um primarismo de novo-rico, o que entrou para a política para subir na vida.

Pensa que é um bom aluno da Troika por exagerar no seu expansionismo cruel, absurdo, de austeridade. E não se lembra que já na escola primária quem queria mostrar ser bom-aluno nunca passou de mero engraxador do professor.

Muitos milhões de portugueses que votaram em si, ficariam, hoje, muito gratos se desse lugar a quem fosse competente, soubesse reconhecer o valor humano e social do trabalho e valorizasse Portugal naquilo que ele é: um povo, com uma pátria e uma história.

Dê lugar a outros e regresse ao colo do senhor engenheiro Ângelo Correia, onde pode ser administrador sem experiência nem habilitações que o justifique".
Vale a pena ler:http://economico.sapo.pt/noticias/islandia-defende-investigacao-ao-governo-portugues_117513.html

sábado, setembro 08, 2012

 
Regressado da Folhada, acabo de ler as novas medidas do Governo. Não sei porquê, dei comigo a pensar no seguinte: tenho de promover uma estátua para o homem que muito roubou na minha Terra: Zé do Telhado. Roubava, como refere Camilo, aos ricos para dar aos pobres.

É certo que os pobres são muitos e muitos e um bocadinho a cada um faz um roubo milionário. Mas para Zé do Telhado ser pobre já era sorte má: não merecia ser roubado e não era vantagem nenhuma: a polícia não chateia quem rouba aos pobres, os tribunais desconfiam que a culpa é dos pobres porque não sabem guardar o dinheiro e os políticos dessa área dizem sempre o mesmo: não há outra forma de ajustar a economia e um rico precisa sempre de muitos pobres para ser rico.

Naturalmente, há uma explicação para o procedimento do Zé do Telhado: Zé do Telhado tinha sido um grande trabalhador num trabalho que no fim do dia se vê o produto do mesmo: era jornaleiro, rachava lenha, rasgava a terra com o arado e muito cedo, de manhã, abria poças para que a água desse boa produção aos campos. Conhecia por isso o valor e o significado do ganhar a vida com o suor do rosto. Os zés do telhado que temos hoje, viveram sempre de expedientes, passaram a vida a cacarejar, nunca transpiraram, tal como os ricos, que procuram imitar, aprenderam muito cedo a vestirem fatos azuis e gravata, só usam sabonete e repudiam o sabão amarelo, tiraram cursos pelo telemóvel, olham com desprezo para quem trabalha, e, por isso, seguem o caminho mais fácil: roubam aos pobres para darem aos ricos, sempre com o fito de amanhã se tornarem tão ricos como aqueles para quem roubam.

Pouca sorte a nossa com os estadistas herdeiros do Zé do Telhado!


terça-feira, setembro 04, 2012

 

Uma consideração sábia!

Hoje estive com um sábio, um daqueles que vem das lutas operária contra o fascismo. Ficou sem emprego e, agora, engraxa sapatos na Praça da Liberdade: o único local onde engraxar não fica mal a ninguém. É aí que engraxam os seus sapatos o Bispo auxiliar do Porto, alguns homens de Abril e este vosso amigo.

Falemos sobre o 25 de Abril e a consideração sábia veio logo: as revoluções fazem-se para dar pão a toda a gente, mas depois, há quem vá puxando o pão para a sua sardinha e hoje, pior do que no fascismo, entregaram o pão e a sardinha aos que nunca trabalharam nem pescaram e vivem de explorar os que andam na pesca ou no fabrico do pão.

Querem síntese mais sábia?!...

Eu fiquei satisfeito e já vou mais iluminado até à Folhada.

Um abraço e até breve.


segunda-feira, setembro 03, 2012

 
Muito boa aluna, mas de pais muito pobres, pediu-me um livro de Filosofia. Fui à editora e fiquei perplexo: o livro custava 40€. Perante o meu espanto, respondeu-me a simpática menina que me atendeu: “o preço inclui muitas fichas para o aluno”.

Isto é, o preço inclui tudo o que faz com que a filosofia não seja filosofia, mas uma pastilha elástica. Pobre Sócrates, o Grego, o que da primeira ciência fez uma arte do saber pensar, problematizando tudo, nunca deixando que o mundo, a vida e os outros se esgotassem numa ficha, mas fossem sempre abertos às interrogações que rompem luz a novas ideias e fazem com que a filosofia seja sempre a coruja da deusa Minerva, que nos faz compreender que chegamos tarde, se não voarmos cedo, muito cedo, para vencermos o que não nos deixa ser mais livres, mais solidários e mais preocupados com um destino comum, o que nos torne mais humanos.

É tão triste que o mercado, esse deus que tudo mercaliza, esteja feito com o adormecimento da inteligência e tenha trocado a Filosofia por uma mera pastilha elástica.


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