quarta-feira, fevereiro 28, 2007

 

Universidades privadas

É vulgar dizer-se que muitas das universidades privadas são autênticos hipermercados de diplomas. Também já se vai tornando vulgar recair sobre as mesmas as mais diversas suspeitas de vigarices, desde gestão danosa até à lavagem de dinheiros.

Agora, o escândalo aconteceu na Universidade Independente. Por aqui passaram figuras como Alberto João Jardim, Armando Vara, Luís Goucha, José Sócrates e outros. E sabemos que muitos deputados intitulam-se professores universitários por darem aulas nestas universidades, como acontece com o prof. Dr. Alberto João Jardim.
http://www.uni.pt/homepages/docentes/jjardim/cv.htm

Pergunta-se: por que será que tantos políticos (deputados, autarcas, etc) buscam prestígio nestas universidades e a estas interessam tanto aqueles?!...


terça-feira, fevereiro 27, 2007

 

Fátima Felgueiras e a normalidade

Fátima Felgueiras, considerou, hoje, em Tribunal que «é normal e habitual que os partidos tenham contas paralelas» (também conhecidas por sacos azuis) para as campanhas eleitorais.

De facto, parece que não só são normais os sacos azuis como também o “loteamento partidário” das autarquias por boys (como refere, hoje, no “Público” Vital Moreira), adjudicar obras a amigos ou ao próprio (como aconteceu com o presidente da junta de freguesia de Arcas, Macedo de Cavaleiros), alterar planos directores municipais em conformidade com os interesses de quem patrocina campanhas políticas (como acontece em muitas autarquias), ser deputado, dirigente distrital de um partido e presidente da Assembleia-geral de um empresa da construção civil (como aconteceu com um muito mediático político dito de esquerda, muito envolvido nas últimas campanhas autárquicas e ligado, desde 1999 até 2003(?), à Edinorte-- empresa do maior empreiteiro do regime Avelino e Major Valentim) etc., etc.

Nesse ponto a Fatinha tem razão.

Só os politicamente incompetentes respeitam a lei e querem a transparência nas suas actividades políticas. Mas esses não são espectaculares nas campanhas, não dão vitórias ao seu partido, nem têm sucesso político. Obviamente, são completamente anormais!


Para recordar, carregue aqui:
http://sic.sapo.pt/online/Images/Flash/Nosporca161005/slide_videos.swf

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

 

Justiça

Segundo o Ministério da Justiça, «a redução das férias judiciais para um mês resultou num aumento de 57,3% do número de processos concluídos em Julho, Agosto e Setembro de 2006».

Naturalmente, estes dados vão ser polemizados, mas uma questão tornou-se incontroversa: só se promove um melhor funcionamento da Justiça com a coragem política que não receie a polémica e é isso que se aplaude e se exige de quem governa.

domingo, fevereiro 25, 2007

 

Espera-se um sobressalto cívico!

O “Público” anuncia, hoje, uma série com retratos comparativos de Portugal de hoje e de há 40 anos, a transmitir pela RTP, da responsabilidade de António Barreto.

Vale a pena estar atento a este programa. A credibilidade e o rigor do sociólogo António Barreto, por certo, não vão deixar ninguém indiferente. Apoiados na sua reflexão, sindicatos, organizações patronais, instituições e partidos vão ser obrigados a verem-se ao espelho.

Particularmente, é necessário que os partidos reflictam na “sua obra” e promovam reformas que obriguem a harmonizar os seus directórios com o melhor da sociedade. A situação do País reflecte a mediocridade e a ausência de mérito nas carreiras políticas no interior dos partidos e isso não se corrige sem encontrar métodos de escolhas que contrariem as lógicas aparelhisticas ou os sindicatos de voto, responsáveis pelo baixo nível de deputados, autarcas e governantes que temos tido. E seria fácil encontrar esses métodos, desde que houvesse sentido patriótico e vontade política.

O que, hoje, no “Público “ diz António Barreto não nos é muito estranho. Temos a mesma opinião que ele tem sobre a educação, as autarquias e, sobretudo, a justiça. Mas uma coisa é a opinião do senso-comum; outra, o impacto dessa opinião feito com a credibilidade que o rigor e a profundidade dum académico lhe emprestam.

O País precisa de um sobressalto cívico.


Oxalá que essa série contribua para esse sobressalto!

sábado, fevereiro 24, 2007

 

Aprendam, paizinhos!...

Numa época em que os pais se demitem de educar os seus filhos, em que a permissividade parece ter força de lei, Bill Gates dá um bom exemplo do que deve ser uma educação responsável.

O multimilionário não se demite de educar os seus filhos e revelou que ele e a sua mulher, Melinda, definiram um tempo para as suas crianças utilizarem os computadores: 45 minutos por dia para jogos em dias úteis, e 1 hora aos fins-de-semana.

A regra familiar parece ter gerado discussão. O filho mais novo perguntou ao pai se iria ter limites toda a sua vida, ao que Bill Gates respondeu: «quando saíres casa, podes definir o teu próprio tempo para uso do PC».

Uma educação responsável exige regras.


Aprendam, paizinhos!...

 

Não basta publicitar bons sentimentos!

O Primeiro-Ministro, José Sócrates, diz-se muito preocupado com as desigualdades e a descriminação. Mas não basta apregoar bons sentimentos: é preciso corrigir o crescimento contínuo da pobreza e da miséria.

De acordo com dados publicados pela Comissão Europeia, Portugal é um dos países da União Europeia onde o risco de pobreza é mais elevado, sobretudo entre as pessoas que trabalham. Segundo os mesmos dados, 14 por cento dos portugueses com emprego vivem abaixo do limiar de pobreza, contra 8 por cento no conjunto dos Vinte e Sete países da U.E.

Pode-se argumentar, como faz o primeiro-ministro, que só o crescimento económico resolve o problema da pobreza. Os factos estão, entretanto, a contradizer essa tese. Com a obsessão desse propósito, este governo tem desenvolvido políticas direccionadas exclusivamente para a produção de riqueza e os resultados estão à vista: aumentou o desemprego, a insegurança no trabalho, a exclusão social no aceso à saúde, no sucesso escolar e, consequentemente, a pobreza.

A correcção desta situação não pode ser feita com uma espécie de “autoritarismo benevolente” que, recusando o diálogo e as medidas contratualistas, teoricamente afirma privilegiar o desenvolvimento económico-social, mas, na prática, gera exclusão e sofrimento.

O núcleo forte do centrão, constituído pelos que do PS se encostaram ao PSD e os do PSD que se encostaram ao PS, tem feito a alternância da governação. Estes têm estado sempre no poder. Precisamos de uma alternativa que, feita por outros, dê lugar a uma boa-governação.

Uma boa-governação não é privilegiar o crescimento da riqueza (para alguns), mas desenvolver políticas que eliminem a miséria e o sofrimento dos que mais sofrem.

A pobreza e o sofrimento, privando o homem da sua dignidade, apelam a um auxílio imediato que, sob o ponto de vista da boa-governação, terá de ter uma resposta prioritária e urgente.

sexta-feira, fevereiro 23, 2007

 

Zeca Afonso - 20 anos depois

José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos nasceu a 2 de Agosto de 1929, em Aveiro, filho de José Nepomuceno Afonso, juiz, e de Maria das Dores.

Em 1930 os pais foram para Angola, onde o pai tinha sido colocado como delegado do Procurador da República em Silva Porto. José Afonso permanece em Aveiro, na casa da Fonte das Cinco Bicas, por razões de saúde, confiado à tia Gegé e ao tio Xico, um «republicano.

Em 1933 Zeca segue para Angola, com três anos e meio, no vapor Mouzinho, acompanhado por um tio advogado.


Em 1936 regressa a Aveiro, para casa de umas tias. E em 1937 vai para Moçambique ao encontro dos pais.
Regressa a Portugal, em 1938, desta vez para casa do tio Filomeno, presidente da Câmara Municipal de Belmonte.

Vai para Coimbra em 1940 para prosseguir os estudos. É matriculado no Liceu D. João III e instala-se em casa da tia Avrilete. No liceu conhece António Portugal e Luiz Goes.

O pai parte de Moçambique para Timor, onde o pai vai exercer as funções de juiz. Com a ocupação de Timor pelos Japoneses, José Afonso fica sem notícias dos pais durante três anos, até ao final da II Guerra Mundial, em 1945.


Nesse mesmo ano começa a cantar serenatas como «bicho», designação da praxe de Coimbra para os estudantes liceais (José Afonso andava no 5.º ano do liceu). Era conhecido como «bicho-cantor».

Em 1949 inscreve-se no primeiro ano do curso de Ciências Histórico-Filosóficas da Faculdade de Letras. Vai a Angola e Moçambique integrado numa comitiva do Orfeão Académico da Universidade de Coimbra.


Em Janeiro de 1953 nasce-lhe o primeiro filho, José Manuel. Dá explicações e faz revisão no Diário de Coimbra. São, nesta altura, editados os seus primeiros discos. Trata-se de dois discos de 78 rotações com fados de Coimbra, editados pela Alvorada, dos quais não existem hoje exemplares. Os dois discos foram gravados no Emissor Regional de Coimbra da Emissora Nacional.

De 1953 a 1955 cumpre, em Mafra, serviço militar obrigatório.

Em 1963 conclui o curso de histrico-filosóficas na Faculdade de Letras de Coimbra com uma tese sobre Jean-Paul Sartre: «Implicações substancialistas na filosofia sartriana».

Dá aulas num colégio privado em Mangualde em 1955/56.

A partir de 1956 edita frequentemente discos.

De 1961 a 1962 segue atentamente a crise académica das universidades portuguesas. E convive em Faro com Luiza Neto Jorge, António Barahona, António Ramos Rosa e Pité e namora com Zélia, natural da Fuzeta, que será a sua segunda mulher.


É expulso do ensino, em 1968. Vive de explicações e começa a cantar com mais assiduidade nas colectividades da Margem Sul.

A 29 de Março de 1974, o Coliseu, em Lisboa, enche-se para ouvir José Afonso, Adriano Correia de Oliveira, José Jorge Letria, Manuel Freire, José Barata Moura, Fernando Tordo e outros, que terminam a sessão com «Grândola, Vila Morena». Militares do MFA estão entre a assistência e escolhem «Grândola» para senha da Revolução.

Um mês depois dá-se o 25 de Abril. No dia do espectáculo, a censura avisara a Casa de Imprensa, organizadora do evento, de que eram proibidas as representações de «Venham Mais Cinco», «Menina dos Olhos Tristes», «A Morte Saiu à Rua» e «Gastão Era Perfeito». Curiosamente, a «Grândola» era autorizada. É editado o álbum Coro dos Tribunais, gravado em Londres, novamente na Pye, com arranjos e direcção musical, pela primeira vez, de Fausto. São incluídas as canções brechtianas compostas em Moçambique no período entre 1964 e 1967, «Coro dos Tribunais» e «Eu Marchava de Dia e de Noite (Canta o Comerciante).


De 1974 a 1975 envolve-se directamente no espírito da revolução dos cravos.

Em 1982 começam a conhecer-se os primeiros sintomas da doença do cantor, uma esclerose lateral amiotrófica. Trata-se, aparentemente, de um vírus instalado na espinal medula que, de uma forma progressiva, destrói o tecido muscular e, normalmente, conduz à morte por asfixia.


Em 29 de Janeiro de 1983 realiza-se o espectáculo no Coliseu com José Afonso já em dificuldades.


Em 1986 apoia a candidatura presidencial de Maria de Lourdes Pintassilgo, católica progressista.

José Afonso morreu no dia 23 de Fevereiro de 1987, no Hospital de Setúbal, às 3 horas da madrugada, vítima de esclerose lateral amiotrófica.

Obs: Dados recolhidos da “Associação José Afonso”.



quinta-feira, fevereiro 22, 2007

 

Novo Bispo para a Cidade Invicta

D. Manuel Clemente é o novo bispo do Porto. Foi escuteiro e é um Homem da Igreja profundamente ligado às questões culturais.

A Cidade Invicta muito precisa deste Pastor.

Os que conhecem D. Manuel Clemente admiram a sua simplicidade, a simpatia que desenvolve com a sua acolhedora forma de comunicar e a sua profunda cultura.

Estive com ele, há dois anos, em Guadalupe, quando visitei o Mosteiro (Santuário) para conhecer melhor a sua importante ligação aos descobrimentos portugueses.

Seja bem vindo, D. Clemente!

 

Caso Esmeralda

O Tribunal da Relação de Coimbra indeferiu um recurso interposto pela defesa do sargento Luís Gomes, no qual era pedido a sua libertação, e decidiu hoje manter a sua prisão preventiva, considerando haver indícios de sequestro da menor de cinco anos que o militar tem à sua guarda desde os três meses de idade.

O Procurador pede uma diminuição da pena e com isso a libertação do arguido.

Ninguém ousará pensar que esta deliberação possa, de alguma forma, ser orientada pela preocupação em sublinhar uma incontestável infalibilidade da corporação de juízes.

Obs: O recurso em que o MP pede a redução da pena para 4 anos ainda não está decidido

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

 

A entrevista do PGR

O Procurador-Geral da República, Pinto Monteiro, na sua primeira entrevista a Judite de Sousa deixou uma imagem de credibilidade, modernidade e bom-senso.

Não fugiu ás questões e, de uma forma tranquila e aberta, soube equacionar os problemas com que se debate, hoje, a justiça em Portugal.


Muito menos se colocou numa posição autista para indicar responsáveis do mau funcionamento da justiça, nem seguiu a estratégia da avestruz para descartar responsabilidades.

Assumiu com simplicidade e frontalidade a necessidade duma melhor formação dos magistrados, da colaboração interdisciplinar na análise de problemas e de uma cultura de desburocratização.

Deixou perceber que não é a falta de férias, as leis mal feitas ou a ausência de meios que impedem a celeridade e a eficácia da Justiça, mas, sobretudo, uma cultura de burocracia, a ausência de rasgo e a falta de empenho de todos os que operam nessa área.

Num tempo em que tanto se fala na independência das magistraturas, Pinto Monteiro soube relevar a importância da competência, da coragem e da imparcialidade (característica fundamental duma justiça justa); e, ainda, da necessidade de todos os operadores se empenharem no bom funcionamento da mesma.

É isso que todos os cidadãos querem.

Parabéns Dr. Pinto Monteiro!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

 

Na metáfora, o sentido de estado

Alberto João Jardim, demitiu-se do cargo de presidente do governo regional da Madeira, cargo que ocupava desde 1978.

E argumentou:

"A situação criada aos madeirenses (com a nova lei das finanças regionais) é como uma pessoa estar a fazer uma casa com o dinheiro que tem no banco e, de um dia para o outro, o banco tirar o dinheiro com o argumento que não gosta dessa pessoa”.

Como se vê, Alberto João encontra na metáfora a razão de governar com sentido de estado: o que consta da fotografia!!!


Por que será que o PSD, em consonância com o apoio que dá a Jardim, não quer eleições na Câmara de lisboa?!.. Ou será que o PSD está mais interessado nos jogos do poder que no bem das populações!!!...

 

Já se desmascarou?!...

A morte existe, mas ninguém pode viver a pensar que vai morrer. O mesmo acontece com o sentimento de tristeza ou de culpa. Para afugentar esses sentimentos e valorizar a felicidade, Roma criou as saturnais, em glória ao deus Saturno. Eram festas de erotismo e euforia exuberante.

Tudo parecia valer nos “carrum navalis” (carros em forma de navios e de cuja expressão surgiu o conceito carnaval) que percorriam a cidade de Roma com mulheres e homens nus, em manifestações estonteantes de alegria.

Bem condenaram os papas esses excessos, mas de pouco valeu! Então, o papa Paulo II, no séc. XV, terá pensado que era impossível afeiçoar pelos séculos fora os crentes às virtudes da sobriedade, da abstinência e da penitência, sem lhes deixar algum tempo para os excessos de euforia.


Promoveu, então, uma viragem estética nessas festividades, introduzindo o uso da máscara no carnaval. O sucesso foi tal que, rapidamente, a máscara deixou de ser uma fantasia para passar a constituir um estilo de vida. Só no Carnaval é que tiramos a máscara!

Valia a pena que, hoje, um novo papa decretasse alguns dias para servir de intervalo ao resto do ano em que a vida se tornou numa interacção entre mascarados. Podia chamar-lhe o tempo da desmascaração!


Naturalmente, mesmo sendo de pouca duração, era um tempo difícil para governantes, políticos, homens de negócios e outros profissionais da seriedade.

domingo, fevereiro 18, 2007

 

Em memória de André Breton

Um homem e uma mulher absolutamente brancos.
Lá no fundo do guarda-sol vejo as prostitutas maravilhosas
Com trajes um pouco antiquados do lado da lanterna cor dos bosques.
Levam a passear consigo um grande pedaço de papel estampado.
Esse papel que não se pode ver sem que o coração se nos aperte nos andares altos de uma casa em demolição.
Ou uma concha de mármore branco caída no caminho. Ou um colar dessas argolas que se confundem atrás delas nos espelhos.
O grande instinto da combustão conquista as ruas onde elas caminham.
Direitas como flores queimadas.
Com os olhos na distância levantando um vento de pedra.
Enquanto imóveis se abismam no centro da voragem.
Nada se iguala para mim ao sentido do seu pensamento desligado.
A frescura do regato onde os sapatinhos delas banham a sombra dos seus bicos.
A realidade daqueles molhos de feno cortado onde desaparecem.
Vejo os seus seios que abrem uma nesga de sol na noite profunda.
E que se abaixam e se elevam a um ritmo que é a única exacta medida da vida.
Vejo os seus seios que são estrelas sobre as ondas Seios onde chove para sempre o invisível leite azul

André Breton (1896-1966)

Bibliografia:

André Breton nasceu em Tinchebray, Orne, em 1896. É considerado pai e fundador do movimento surrealista.

Estudou medicina e, durante a Primeira Guerra Mundial, prestou serviço nos centros de psiquiatria do exército, o que o levou a estudar as obras de Freud e a interessar-se pelo mundo do inconsciente.

Em 1919 ligou-se ao movimento dadaísta e já sob a influência de Rimbaud, Apollinaire e Mallarmé, publicou o livro de poemas "Mont de piété", cuja violência verbal antecipava obras posteriores.

Em colaboração com Philippe Soupault e Louis Aragon, fundou a revista Littérature, de cujo programa constava a ruptura com valores estéticos e éticos dominantes, a reflexão sobre a criação poética, a proclamação da primazia dos componentes oníricos sobre os racionais, a exploração literária do inconsciente, através da escrita automática. Considerava que a arte e a política eram indissociáveis e que se deveria fazer do caos e da desordem expressões estéticas.

Em 1924 escreveu o "Manifeste du surréalisme", reunindo à sua volta, entre outros, Eluard, Aragon, Péret, Picasso, Soupault, Artaud, Narville, e Cicon. O orgão deste movimento era a revista "La Révolution Surrealiste".

Em coautoria com Leon Trotsky, escreveu em 1938, "Por uma arte revolucionária independente”.


Em 1937 publicou o conto "O amor louco”, verdadeira síntese da sua obra.

Perante a crise ideológica de 1929, que ameaçava dividir o movimento, André Breton, publica o "2º Manifeste du Surréalisme e rompe com o Partido Comunista.

Nessa altura, fundou a revista "Le Surréalisme au Service de la Révolution" e publicou o panfleto "Position politique du Surréalisme".

Graças ao trotskista Victor Serge, fugiu de França, ocupada pelos nazis, e exilou-se nos Estados Unidos, com Jacqueline Lamba –- sua segunda mulher e musa. Os dois, nessa fuga, foram hóspedes de artistas como Gordon Onslow Ford, Picasso e conheceram Peggy Guggenheim, Serge, Goldberg, o antropólogo Levy Strauss e Wifredo Lam.

Depois da segunda guerra mundial, Breton regressou a França, continuando líder do surrealismo.

Defendeu a eliminação das barreiras entre o sonho e a realidade, a razão e a loucura, e contribuiu para fazer do surrealismo o encontro do temporal do mundo com os valores eternos do amor, da liberdade e da poesia.

Escreve, a propósito: "Tudo nos leva a acreditar que existe um certo estado da mente em que vida e morte, o real e o imaginário, passado e futuro, o comunicável e o incomunicável, altura e profundidade não são mais percebidos como contraditórios"-- " Segundo Manifesto do Surrealismo" (1929).

André Breton faleceu em Paris, em 1966.

sábado, fevereiro 17, 2007

 

Aos Domingos, iremos ao jardim.
Entediados, em grupos familiares,
Aos pares,
Dando-nos ares
De pessoas invulgares,
Aos Domingos iremos ao jardim.
Diremos nos encontros casuais
Com outros clãs iguais,
Banalidades rituais
Fundamentais.
Autómatos afins,
Misto de serafins
Sociais
E de standardizados mandarins,
Teremos preconceitos e pruridos,
Produtos recebidos na herança
De certos caracteres adquiridos.
Falaremos do tempo,
Do que foi, do que já houve...
E sendo já então
Por tradição
E formação
Antiburgueses
- Solidamente antiburgueses-,
Inquietos falaremos
Da tormenta que passa
E seus desvarios.

Seremos aos domingos, no jardim,
Reaccionários

Reinaldo Ferreira

Enviado por Amélia Pais


 

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

 

Abertura aos sinais do tempo

A nota pastoral dos bispos (sobre os resultados do referendo) deixa desarmado um fundamentalismo cristão (que só tem servido para fechar a Igreja num autismo próximo do “orgulhosamente-só”) e abre-se aos sinais do tempo em que vivemos.

Os bispos consideram que a «sua missão tem de ser, cada vez mais, pensada para um novo contexto da sociedade» e defendem «criatividade e ousadia» para o «esclarecimento das consciências».

Apostam na promoção de «estruturas de apoio eficaz» às mães e reclamam uma educação da sexualidade dos jovens.

Mas não bastam essas bandeiras: é também necessário pensar as questões sociais do trabalho precário, da mobilidade imposta aos trabalhadores e do desemprego; pensar, em suma, todos os factores que determinam as circunstâncias económicas, psicológicas e sociais duma maternidade responsável.

Como é público e notório, há muita gente, com muito poder económico e político, que se diz católica: é preciso que a Igreja lhes faça ver que ser católico não é desenvolver a retórica da metafísica dos costumes, mas levar à prática, nas empresas e na forma de governar, os princípios da solidariedade e da coesão social que estão presentes no “sermão da montanha”.

quinta-feira, fevereiro 15, 2007

 

Mais “milho” para os pardais!...

Haverá algum país na Europa onde se receba 210 mil euros para sair de uma empresa pública e transitar para outra, onde se vai auferir mensalmente 5.050 euros?!...

Lemos, hoje, no Correio da Manhã:

Manuel Lopes Marques, ex-director-geral de exploração e conservação da Refer, recebeu em Junho de 2006 uma indemnização de 210 mil euros para sair, a seu pedido (!..), daquela empresa.


Imaginem se não fosse a seu pedido?!...

Entretanto, dois meses depois, em Outubro, ingressou na Rave (do mesmo grupo) para desempenhar o cargo de assessor do conselho de administração, com um contrato até três anos e um salário mensal de 5.050 euros.

Convém lembrar que a Rave pertence à Refer e as duas empresas pertencem ao grupo CP.

Luís Pardal, presidente da administração da Refer e da Rave, assumiu o cargo depois de o ministro dos Transportes, Mário Lino, ter exonerado a administração anterior das duas empresas.

Em 2005, a Refer apresentou um prejuízo de 160 milhões de euros, um aumento de quatro por cento face ao ano anterior.

A Rave foi criada em 2000, com a missão de desenvolver e coordenar os trabalhos e estudos para a instalação do TGV, com um capital social de 2,5 milhões de euros.

Se os prejuízos forem proporcionais às indemnizações (maior o prejuizo/maior a indemnização) da administração, por quanto ficará uma indemnização ao Pardal?!...

A bem do “rigor”, tanto apregoado, os ministros das Obras Públicas, Transportes e Comunicações e das Finanças que tutelam estas empresas, naturalmente têm de começar a pensar nisso.

Por alguma razão se aplicam, em Portugal, os salários (não de administradores, entenda-se!)mais baixos da Europa!...

 

O professor Marcelo

Depois de termos sobrevivido à desilusão de percebermos que a saudade não é um exclusivo nacional, que não existem linces na Malcata e que já nem somos os únicos a cozinhar bacalhau consola-nos descobrir que temos um novo ícone da singularidade lusa: o professor Marcelo.

Como bem se percebe, o professor Marcelo nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa. O professor Marcelo não é uma pessoa. É um posto.

Os romanos, povo de sentido indiscutivelmente prático, - quem senão eles poderiam chamar Primeiro, Segundo ou Terceiro aos filhos? - acharam por bem criar um cargo que, à falta de mais pacífica designação, adquiriu o nome de quem o ocupava.

Falo obviamente dos césares. Portugal não é o Império Romano, logo não falamos de césares e pretorianos mas sim do que disse o professor Marcelo, essa espécie de holograma que ora nos narra tudo o que fez nos últimos sete dias - e esse tudo implica pelo menos um concerto na Baviera e uma palestra em terras de Basto, uma aula sobre Direito em Luanda, três pareceres, duas apresentações de livros e um jogo de futebol – ora nos enreda nas voltas e contravoltas do seu raciocínio tão narcísico quanto hiperactivo.

Nas palavras do professor Marcelo os crimes não têm pena e o 'não' passa a 'sim'. Mas nada disto importa porque o professor Marcelo usa as palavras como outros deitam cartas. Mais do que o explicador de Portugal ao povo e às crianças, ele é o grande ilusionista da nação.

O professor Marcelo, que repito nada tem a ver com o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, foi ministro dos Assuntos Parlamentares e presidente da Assembleia Municipal de Celorico de Basto. Aparte isso também foi líder do PSD e candidato à presidência da CML.

Sendo a soma de tudo isto alguma coisa, teremos de reconhecer que curricula destes não são raros, mesmo em Portugal. Raro, raríssimo até, é um homem que, como Marcelo Rebelo de Sousa, falhou em quase tudo no plano executivo conseguir ocupar tão elevado posto. O de professor Marcelo.

Helena Matos
PÚBLICO, 13 de Fevereiro

 

FALEMOS DE MIOSÓTIS

Visto que Você não quer que as coisas continuem
Assim
Nesse caso
Falemos de miosótis
Flor sobre a qual não sabemos
Nada.


Alberto de Lacerda

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

 

O que é o Amor?

Os mais tímidos dizem que é o coração a bater, um nó no estômago e as mãos a suar.
Os mais românticos dizem que é como um dia de Sol a brilhar e os pássaros a cantar.
Há ainda quem diga que o amor é quando nada mais existe senão aquela pessoa quando passa por nós.
Claro que também há os desmancha-prazeres que dizem que o amor é só um sentimento, algo psicológico…
Eu acho que o amor é aquilo que nós queremos que seja. Uma coisa maravilhosa que sentimos por alguém.

Carolina Brandão V. Aguiar Pinto – nº 8 – 7º A


Escola Secundária Filipa de Vilhena

1º Prémio

Categoria: Ensino Básico
Enviado por : Manuela Monteiro

 

Dia dos namorados

Já sou do tempo em que se podia namorar honestamente num banco dum jardim, sem que um polícia parasse para coimar em vinte e cinco tostões um beijo surripiado. Mas o meu tempo ainda não era de grandes aventuras. Não vivi a Lupercália do tempo de Valentim, mas tive a guerra do Cláudio Salazar. Inspirado na deusa Vénus também fiz poemas e com a protecção de S. Valentim ergui a bandeira do «make love, not war».

No dia dos namorados recordo tudo isso e as vezes que, debruçado na sacada do mar, ouvia as manhãs cantar, recordo ainda o Abril que doirou o nosso enamoramento, as filhas que fizemos, a ternura dos quarenta e as noites que passamos em claro.

No dia dos namorados não apagamos velas, mas vamos trocar olhares que são portos seguros dum horizonte sonhado.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

 

“Arripias Corpus”, antes que a Justiça apareça!...

O programa “Prós & contras” da RTP1 tem cada vez mais interesse, não tanto por aquilo que nele é dito, mas, sobretudo, por aquilo que deixa entender.

Ontem, tratou, mais uma vez, da questão da Justiça. E mais uma vez ficou claro que a crise da Justiça não se manifesta só na relação entre a justiça e os cidadãos, mas lavra no próprio interior do sistema.

Não se percebe que os juízes pretendam que os cidadãos entendam as suas decisões, se eles próprios não se entendem entre si! Isso foi evidente no debate sobre o princípio da reserva (uma espécie de lei da rolha), o princípio da oportunidade (uma espécie de instrumento da arbitrariedade) e sobre o princípio do “habeas corpus”.

Se cada signatário do “habeas corpus” tiver de pagar custas judiciais no valor de 480 euros, como garantiu o Juiz Conselheiro Fischer Sá Nogueira e com muitas indecisões os restantes juízes, em vez de um “habeas corpus” (para evitar o abuso do poder) teremos um “arripias corpus”.

De facto, com esta interpretação da lei não podemos encontrar melhor imagem para o princípio constitucional duma Justiça ao serviço dos cidadãos.

Já não sei se a crise da justiça é o reflexo da crise desta sociedade ou se a crise desta sociedade é o reflexo da crise da justiça.


Com o custo de vida a crescer todos os dias, o melhor será instituir na Constituição o “ARRiPIAS CORPUS”, antes que a Justiça apareça!...

segunda-feira, fevereiro 12, 2007

 

14 a 17 de Fevereiro, no Porto

Clube Literário do Porto

com José Afonso - "20 Anos de Caminho"

 

Em memória do Zeca

Traz outro amigo também

Amigo
Maior que o pensamento
Por essa estrada amigo vem
Não percas tempo que o vento
É meu amigo também

Em terras
Em todas as fronteiras
Seja benvindo quem vier por bem
Se alguém houver que não queira
Trá-lo contigo também

Aqueles
Aqueles que ficaram
(Em toda a parte todo o mundo tem)
Em sonhos me visitaram
Traz outro amigo também

José Afonso

domingo, fevereiro 11, 2007

 

A vitória da tolerância e do respeito pela diferença

No referendo a maioria dos votantes considerou que a IVG deveria ser despenalizada. O resultado esperava-se. A própria abstenção parece não ser diferente da que geralmente surge em outros países, em referendos similares.

A campanha pelo SIM ou pelo NÃO, com excepção dos fundamentalistas, deixou duas grandes lições:

1º - quando a sociedade civil se envolve na luta por aquilo que acredita, o debate ganha em rigor e honestidade, torna-se mais esclarecedor e a argumentação é mais convincente.

2º - acontece com a Igreja Católica o que já aconteceu com o Futebol. Se 90% dos portugueses são católicos, os imperativos de consciência afirmaram-se de forma livre e sem condicionamentos. Tornou-se evidente que a consciência dos católicos não se deixou condicionar pela Hierarquia da Igreja e orientou a sua decisão pelas exigências cívicas de tolerância e respeito pelas opiniões diferentes.

Esperamos que os partidos e os políticos saibam aprender com as lições que proporcionou o excelente debate (com excepção dos fundamentalistas) que se desenvolveu em torno do referendo.

A democracia ganha sempre que o debate deixa de ser mero espectáculo e se torna num confronto e partilha de argumentos que se orientam por valores.

 

Assim vai a Justiça!!!...

Noticia, hoje, o JN:

«O processo em que Avelino Ferreira Torres, ex-autarca do Marco de Canaveses, foi condenado por abuso de poderes, pela utilização de funcionários públicos em obras particulares, está muito próximo da prescrição.

O caso transitou há dias para o Tribunal Constitucional (...)

Fontes judiciais explicam que os factos do processo (datado de 1996), qualificados como crime, prescrevem, na hipótese mais extrema, ao final de 10 anos e seis meses após a sua prática.

De crime de peculato a abuso do poder

(...) o acórdão do tribunal do Marco, datado de 11 de Junho de 2004, refere Junho de 1997 como última data das práticas alegadamente criminosas.

O recurso apresentado pelo advogado de Ferreira Torres na Relação do Porto serviu para lhe ser alterada a qualificação jurídica do crime.

O tribunal do Marco considerara que utilizar trabalhadores da Câmara em obras da quinta particular, dentro do horário de trabalho, constitui crime de peculato.

Mas os juízes-desembargadores disseram que tais factos só podem ser considerados ilícito de abuso de poderes.


De abuso do poder à prescrição

(...)em Fevereiro do ano passado diminuíram a pena de três para dois anos e três meses de prisão, confirmando, também, a perda de mandato.

Apesar da decisão favorável, Torres reclamou que, antes de ser alterado o crime por que foi condenado, deveria ter sido outra vez ouvido pelo tribunal.

Os juízes não lhe deram razão, mas o defensor do autarca tem prosseguido com recursos, protelando o trânsito em julgado da condenação.


No STJ, em Novembro do ano passado, os juízes rejeitaram-lhe o recurso, argumentando que a moldura penal dos crimes de abuso de poderes e de peculato de uso (inferior a oito anos de prisão) não o permite. Torres voltou a reclamar contra a não admissão do recurso, mas não conseguiu mudar a posição dos juízes, que confirmaram a decisão no final do passado mês de Janeiro.

Depois disso, o actual vereador na Câmara de Amarante já recorreu para o Tribunal Constitucional, alegando ter sido violado o seu direito de defesa e de recurso.

A prescrição

Basta-lhe aguentar o processo mais alguns meses sem que a condenação se torne definitiva para poder argumentar pela prescrição do crime (passaram-se 10 anos!...)

Se Avelino alcançar esta prescrição, ficará em posição mais confortável relativamente a outros inquéritos que ainda correm.

Entre outros casos, está pendente no tribunal do Marco um processo por alegada falência fraudulenta nas Confecções FT.

Na PJ do Porto são investigados ainda dois processos conexos com a actividade autárquica no Marco e o futebol
.

O mais sonante tem a ver com suspeitas de gestão danosa e peculato, mercê do aparecimento, em contas bancárias de pessoas próximas de Torres, de avultadas verbas provenientes de pagamentos efectuados por dívidas a empreiteiros locais.».

Mais palavras, para quê?!....
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Na imagem do funcionamento dos Tribunais, ver os mais famosos (acima da lei e à margem da justiça) em:

http://sic.sapo.pt/online/Images/Flash/Nosporca161005/slide_videos.swf

sábado, fevereiro 10, 2007

 

Médicos pela escolha


 

A Excepção e a Regra


Estranhem o que não for estranho.

Tomem por inexplicável o habitual.
Sintam-se perplexos ante o quotidiano.
Tratem de achar um remédio para o abuso
Mas não se esqueçam de que o abuso é
sempre a regra.

Bertolt Brecht
_____

Enviado por Amélia Pais

 
"Podem matar uma,
duas até três rosas,
mas nunca deterão a Primavera".

Che Guevara

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

 














Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

Sophia de Mello Breyner Andresen

 

A tranquilidade em notícia

Noticia a SIC (online):

«É na pequena igreja de Lordosa que o padre Manuel Costa Pinto às vezes celebra missa. Diz o povo que é quando o padre Amadeu não pode.

Há algumas semanas, na missa, o padre disse que ia votar "Sim" e tem feito campanha pela despenalização do aborto.

Alguns fiéis ficaram surpresos, outros acham que "não é por ele ser padre que tem que pensar como os outros".

O Padre Manuel Costa Pinto continua a ser bem visto, as suas palavras causaram alguma surpresa, mas pouco mais se passa na pacatez habitual da freguesia do concelho de Viseu.

A vida continua indiferente a polémicas».

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

 

Chove...
















Chove...

Mas isso que importa!,
se estou aqui abrigado nesta porta
a ouvir a chuva que cai do céu
uma melodia de silêncio
que ninguém mais ouve
senão eu?

Chove...

Mas é do destino
de quem ama
ouvir um violino
até na lama.

José Gomes Ferreira

Enviado por LN

 

Honrar a memória




















Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido….

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)

Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.
E ilumina o Nada
Com a minha sede.

José Gomes Ferreira.


Enviado por LN

 

As armadilhas do “Não”.

Os defensores do NÃO à despenalização construíram duas armadilhas semânticas:

1ª armadilha: defender SIM significa defender o aborto.
2ª armadilha: dizer NÃO significa ser contra o aborto.

Manipula-se, assim, a questão central do referendo: dizer se se concorda ou não com a despenalização da IVG.

Quem leva a bandeira desta cruzada é o Prof. Gentil Martins. Num tom de voz irritante, esclareceu, na SIC-Notícias, que as mulheres que têm recorrido ao aborto são «levianas que enganam os maridos» e, por isso, segundo o Professor, «nunca irão aos hospitais, preferindo a clandestinidade do vão-de-escada para abortar». E, (contraditoriamente) acrescentou: «depois, vêm para a televisão apregoá-lo».

Com este fundamentalismo cristão, não há crente que resista. Nem mesmo o padre de Viseu, Manuel Costa Pinto, que claramente afirmou (como é, hoje,noticiado): «votarei "sim" no referendo do próximo domingo, porque entendo que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o verdadeiro infanticídio a que obriga a lei actual (…) A mulher deve ser libertada dessa coisa vergonhosa que é o julgamento e também o castigo da prisão”». E lembrou as palavras de Cristo: ”aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra”.

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

 

Fica-se perplexo!...

É, hoje, noticiado que um Juiz-desembargador foi objecto de um processo disciplinar, aberto pelo CSM, por ter considerado, num artigo de opinião, que a pena de seis anos de prisão atribuída ao sargento Luís Gomes foi «cega, brutalmente injusta e desproporcional».

Mas isso é o que diz toda a gente que valoriza um Pai do coração, inclusivamente D. Januário, Bispo das Forças Armadas. Por que não pode dizer um Juiz o que outros cidadãos dizem?!...

Os códigos de honra que, no interior de corporações, interditam a critica são próprios das sociedades fechadas e obscuras.

Na justiça, mais do que em outra qualquer instituição, é fundamental a crítica e a autocrítica às suas próprias medidas. É que a sua credibilidade depende, sobretudo, da seguinte interrogação: será que as nossas decisões conduziram a consequências injustas?!...

A resposta a esta pergunta terá de ser aberta, porque uma boa justiça deve saber reconhecer os seus próprios erros para os poder corrigir; e isso é impossível sem a disponibilidade para aceitar criticas no seu próprio interior e fora dele.

terça-feira, fevereiro 06, 2007

 














Há palavras tão belas e fugazes
que não me posso negar a oferecê-las
a fixá -las em mapas que te explorem

Há poemas com frutas do ultramar
que envio urgentemente
e não sei se a tua noite
saboreia ou recusa

Há regiões da vida que proíbem
a entrada aos poetas “proibido
invadir com palavras”

Aurora Luque
(Almeria, Espanha-n.1962)

Enviado por Amélia Pais

segunda-feira, fevereiro 05, 2007

 

Voos da CIA

Foi, hoje, aberto pelo Ministério Público um inquérito-crime sobre a alegada utilização de Portugal pela CIA para voos ilegais de transporte de prisioneiros.
Esta decisão veio no sequência da denúncia feita pela deputada do parlamento Europeu Ana Gomes á PGR, em virtude do Governo de Portugal recusar um inquérito aprofundado sobre o assunto.

O PS, num tom de sobranceria, tinha desafiado Ana Gomes a queixar-se ao Ministério Público. A deputada levou o desafio a sério, cumpriu o seu papel de deputada e colocou a bandeira dos direitos humanos acima do carreirismo político e do pensamento de conveniência.

 

Pluralismo a 25%

Aberto João Jardim concedeu, em 2005, mais de 4,6 milhões de euros ao Jornal da Madeira, que ele próprio dirigiu e onde assina uma página diária de opinião.

Este subsídio representa 75% do total de apoios concedidos naquele ano pelo governo da Madeira a órgãos de comunicação social.

Para quem se surpreende, explica Alberto João: “os apoios financeiros ao Jornal da Madeira servem para manter o pluralismo na comunicação social”.

Resta para os outros meios de informação 25%,

É o chamado pluralismo a 25%.


E estão com sorte!!!...

domingo, fevereiro 04, 2007

 

Um projecto inovador

Ontem inaugurou-se, com a presença do Ministro doTrabalho e da Solidariedade Social, José António Vieira da Silva, o projecto «apartamento de autonomização». Consta de um espaço (um T2) onde passarão a viver, de forma autónoma, seis educandos do Instituto Profissional do Terço (uma instituição que acolhe crianças e jovens em risco encaminhados pelo Tribunal de Menores ou pela Segurança Social).

Este projecto pretende proporcionar a jovens (com idades a partir dos 15 anos, vindos de uma situação de risco e estando em transição para a vida activa) competências de autonomia, desde saber gerir uma casa, assumir compromissos económicos e criar o seu projecto de vida.

Para desenvolverem estas competências é-lhes dada uma determinada verba que eles depositam num banco e aprendem a gerir. Serão acompanhados por técnicos de inserção social que os ajudarão a elaborar um projecto de vida, desenvolver os seus currículos profissionais, lidar com bancos, procurar emprego ou, se for caso disso, criarem a sua própria empresa.

Esta é uma iniciativa pioneira no âmbito do projecto de autonomia de jovens acolhidos em situação de risco.

 

Computo, ergo sum

O princípio da tolerância significa respeitar os direitos de consciência em diferentes modos de ver.

O fariseu considera perversa toda a opinião que difere da sua. Por isso, diz: «Ó Deus, dou-te graças por não ser como o resto dos homens, que são ladrões, injustos, adúlteros e levam as grávidas a abortar».

São três as características do pensamento fariseu:

1º- As leis, normas e regras transcendem os indivíduos.
2º -A interacção entre os indivíduos é naturalmente má.
3º -O sistema social é imutável e o indivíduo não tem outra alternativa senão conformar-se com a pressão das suas normas.

O fariseu não põe a hipótese de poder conviver com outras formas de ver a vida, a sociedade, o mundo. É fundamentalista (tem a sua interpretação como a única que deve ser admitida) e integrista (integra a sua crença na ideologia do estado).

Mas há outras concepções da vida, da sociedade e do mundo.

E, tal como nos jogos de cartas, em diferentes modos de ver o mundo as mesmas palavras ganham significados diferentes.

As mesmas palavras podem suportar factos ou suportar crenças. Os factos suportam amplamente o neodarwinismo, a crença suporta a concepção criacionista da religião.

No paradigma religioso jogamos a palavra vida humana com um significado diferente daquele que a mesma palavra ganha num paradigma dessacralizado ou materialista.

Modos de ver diferentes correspondem a paradigmas diferentes. O trabalho da hermenêutica é procurar o significado das palavras dentro de um modo de ver.


Dentro dum modo de ver neodarwinista (dessacralizado), a vida tem uma origem complexa de auto-eco-organização.

No princípio, matéria e energia (geoesfera) entraram em interacção e desse processo emergiu a vida (bioesfera).Na luta pela vida, a diversidade e a complexividade foram integrando informações cada vez mais complexas. Essa informação fez emergir o ADN, como um programa aberto que vai dirigindo o desenvolvimento do ser vivo nas suas interacções com outros seres vivos e o meio.

Foi a partir deste processo complexo de auto-organização que emergiu (num estado avançado do seu desenvolvimento) a computação ou programa cognitivo, ou seja, a noosfera.

A evolução ontogenética (da biosfera à noosfera)é paralela á filogenética (do embrião ao ser humano).

O sapiens só aparece, quando emerge (num determinado ser vivo) a computação cognitiva; o ser humano só aparece, quando no desenvolvimento da união de dois gâmetas surge (por volta das 12 semanas) o sistema nervoso central que potencializa a computação cognitiva.

Para um não crente o princípio do ser humano poderia definir-se da seguinte forma:
computo, ergo sum.


A crença pertence a uma convicção subjectiva e a ordem da fé é diferende da ordem do mundo.

Não se deveria impor farisaicamente à consciência dos cidadãos crenças que não sejam por eles livremente aceites.

 

89
«Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres cum choro piadoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, Esposas, Irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrecentavam
A desesperação e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo.

90
«Qual vai dizendo: "Ó filho, a quem eu tinha
Só pera refrigério e doce emparo
Desta cansada já velhice minha,
Que em choro acabará, penoso e amaro,
Porque me deixas, mísera e mesquinha?
Porque de mi te vás, ó filho caro,
A fazer o funéreo enterramento
Onde sejas de pexes mantimento?"

91
«Qual em cabelo: "Ó doce e amado esposo,
Sem quem não quis Amor que viver possa,
Porque is aventurar ao mar iroso
Essa vida que é minha e não é vossa?
Como, por um caminho duvidoso,
Vos esquece a afeição tão doce nossa?
Nosso amor, nosso vão contentamento,
Quereis que com as velas leve o vento?"

92
«Nestas e outras palavras que diziam,
De amor e de piadosa humanidade,
Os velhos e os mininos os seguiam,
Em quem menos esforço põe a idade.
Os montes de mais perto respondiam,
Quase movidos de alta piedade;
A branca areia as lágrimas banhavam,
Que em multidão co elas se igualavam.

In: Os Lusíadas,IV,89-92


Enviado por Amélia Pais

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

 

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